Começar esse post com essa palavra me assusta, mas foi com ela que acordei hoje lendo um blog de uma pessoa que eu não conheço, nunca vi na frente, só falei uma vez em um contato um tanto estranho (por ser virtual), e agora só tenho visto pelas visitas que faço ao espaço dele.
Todas as vezes que iniciei um blog, eu inseria o velho papo do "nasci de uma família..." e terminava dizendo que assim o era. Pois agora posso dizer que nasci de uma família meio estranha, detonada por um lado, obscura por outro. A terapia, quando inicia o toque no fundo do poço, da escavação da minha infância, traz um medo incompreensível ainda. Tenho medo de tocar nas coisas que por ventura me fizeram mal, mesmo não sabendo quais são.
Meu pai era desenhista, minha mãe, sempre dona de casa. Meus irmãos, René um visionário, um cara inteligente, pacato, sossegado. O Sérgio um espírito incansável, trabalhador, rápido.
Quando René casou com Leonor, meu pai (tenho certeza), sentiu a perda do filho. Mas não admitia. A mesma coisa com o Sérgio. Quando o Sérgio faleceu, ele realmente tinha perdido um dos filhos, e acho que a partir daquele momento ele percebeu que não esteve presente o tempo todo com os filhos. Sim, Queiroz foi ausente em tudo.
Dai começou a procurar René. E quando meu pai faleceu, estava sozinho num asilo para pessoas doentes em Campos do Jordão. Todos pediram que o fosse visitar, mas como ele havia me "culpado" da doença dele, resolvi que era melhor não.
Dei o recado de seu falecimento, que me foi passado pela irmã mais nova dele 9 meses depois ao meu irmão, e continuamos a viver.
Quem vai questionar essas coisas? Ninguém. Só, quem sabe, em terapia.
E foi na terapia que me defrontei com uma coisa estranha. Eu sempre me declarei uma garota não revoltada com tudo que acontecia com minha família. Eu na realidade não enxergava o que estava acontecendo e não queria de modo algum enxergar. Não sou uma garota revoltada porque não me permito revolta. Sou no máximo magoada com todos que magoaram minha infância, mas eles não estão mais aqui para que eu resolva os problemas conversando com eles, então vou cuidar de ter mais contato com meu único irmão. Deixando de lado o fato de que ele é assim, na dele. E o moço que eu estava lendo sabe bem o que é ver uma pessoa na dele.
Não sei se sinto pena dele ou apenas confirmo que somos todos do mesmo sangue e seguimos nosso caminho sem olhar para trás, sem reparar no quanto magoamos as outras pessoas.
Ele tem uma consciência maravilhosa igual a da irmã. E eu me identifico muito com eles. Muito mesmo. Estamos passando por momentos de descoberta, eu mais tarde que eles, com certeza, mas ainda bem que estou passando.
Então moço bonito, que eu não tive o prazer ainda de conhecer, mas tenho certeza que o universo há de conspirar a favor de nós, te desejo felicidades mil, descobertas ainda maiores, e rezo que mesmo com o mesmo sangue e mesmo destino, não nos deixemos cometer os mesmos erros de nossos pais.
Um comentário:
Minha Irma, Te AMO prá caramba, é muito legal te ler e saber de ti.
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