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02 abril 2006

Violência Doméstica


Nas salas da academia de polícia, muitos eram ideólogos, achávamos que poderíamos mudar a vida de algumas pessoas só por estar com o “poder” nas mãos.
Uma amiga disse: - Vou para a Delegacia das Mulheres (DDMs), por que assim posso impedir as mulheres de serem agredidas. Rimos da ingenuidade dela, porque já tinha consciência que ela iria se dar mal. E foi o que aconteceu.
Dois anos depois a encontrei numa reunião e ela se mostrando apática e descontente nos relatou que o trabalho dentro de uma DDM não é fácil. As mulheres que sofrem violência doméstica vão até a Delegacia em último caso, registram a ocorrência e ao final, informadas do prazo decadencial da denúncia, desistem da representação.
Há vários motivos para isso, mas um dos mais fortes é que a violência acaba incutida na vida dessas mulheres, e já não podem mais largar esse círculo vicioso, e “aceitam” essa violência gratuita justificando que não podem ficar sozinhas no mundo, que não podem deixar os filhos sem os pais abusivos. Diversas são as desculpas, piores são os resultados.
Estatísticas mostram que mulheres que sofrem abusos domésticos morrem muito mais cedo do que qualquer outra mulher. Filhos de um casal que passa por momentos de abuso serão ou agressores ou agredidos. Isso se torna um círculo vicioso.
Temos histórias de plantões de DDMs terríveis. Difícil de relatar, porque fico me perguntando como alguém aceita isso.
Meus pais eram um casal extremamente brigões. Só que minha mãe revidava cada ataque que meu pai fazia. Isso me trouxe alguns problemas na fase adulta, mas que foram sanados. Ainda me lembro que não dormia com a luz apagada e muito menos tomava banho com a porta fechada. Não consigo ouvir berros de um casal.
Um dia na casa da mãe do meu ex-namorado, o Bernardo, ele discutia com ela de uma forma tão bruta que sai da casa, chorando, e fui para a rua. Senti a mesma sensação, a mesma dor. Acho que foi ali que percebi que não poderia casar com ele.
Essa história veio agora por que minha mãe, ao sentarmos na mesa, me contou um fato que ainda choca e me faz tremer o corpo de raiva. Fiquei horas tentando relaxar para relatá-la aqui e fazer com que pelo menos aquelas que lêem esse blog e sofram esse tipo de violência, dêem um basta nela.
A empregada do colégio de freiras aqui da região, perto da Igreja onde minha mãe freqüenta, está com depressão profunda.
Lembro-me que uma vez ela perguntou para minha mãe como ela deveria agir com o marido que a chamava de “geladeira”. Minha mãe sugeriu que ela bebesse algo, uma “pinguinha” para agüentar o marido abusivo (que também bebe e ainda a espanca pela frigidez).
Grávida de sete meses, ela apanhou tanto que abortou o menino. Ficou chocada com a imagem do garoto morto, e não denunciou o marido. Segundo minha mãe relatou, nem para os médicos. Foi considerado um aborto natural.
Espanta-me os médicos e as freiras não fazerem algo, mas o que se pode fazer com a apatia da população em geral? O problema não é deles!
Agora ela está em depressão, com mania de perseguição e tomando remédios anti depressivos, o velho e conhecido tarja preta.
Minha mãe contando a história e um sentimento ruim me tomando e uma vontade de juntar um bando de homens conscientes, buscar o infeliz e bater... e bater... e bater... e fazê-lo sentir o que a mulher que dorme com ele, que lava a roupa dele, e que faz sexo com ele, aprenda como dói.
Depois parei e pensei, não, sentimentalismos nessa hora não dá. Ou vamos ser realistas e discutir isso com SERIEDADE, ou vamos deixar muitas outras mulheres passarem por isso.
Há uma linha tênue entre o chamado consensual e a violência gratuita.
Por quê algumas mulheres ainda acham que “devem” passar por isso?? Por quê?
Por quê algumas outras pessoas não fazem absolutamente nada contra isso? Por quê ?
E lá vamos nós com os nossos por quês!!!!!!