Nas salas da academia de polícia, muitos eram ideólogos, achávamos que poderíamos mudar a vida de algumas pessoas só por estar com o “poder” nas mãos.
Uma amiga disse: - Vou para a Delegacia das Mulheres (DDMs), por que assim posso impedir as mulheres de serem agredidas. Rimos da ingenuidade dela, porque já tinha consciência que ela iria se dar mal. E foi o que aconteceu.
Dois anos depois a encontrei numa reunião e ela se mostrando apática e descontente nos relatou que o trabalho dentro de uma DDM não é fácil. As mulheres que sofrem violência doméstica vão até a Delegacia em último caso, registram a ocorrência e ao final, informadas do prazo decadencial da denúncia, desistem da representação.
Há vários motivos para isso, mas um dos mais fortes é que a violência acaba incutida na vida dessas mulheres, e já não podem mais largar esse círculo vicioso, e “aceitam” essa violência gratuita justificando que não podem ficar sozinhas no mundo, que não podem deixar os filhos sem os pais abusivos. Diversas são as desculpas, piores são os resultados.
Estatísticas mostram que mulheres que sofrem abusos domésticos morrem muito mais cedo do que qualquer outra mulher. Filhos de um casal que passa por momentos de abuso serão ou agressores ou agredidos. Isso se torna um círculo vicioso.
Temos histórias de plantões de DDMs terríveis. Difícil de relatar, porque fico me perguntando como alguém aceita isso.
Meus pais eram um casal extremamente brigões. Só que minha mãe revidava cada ataque que meu pai fazia. Isso me trouxe alguns problemas na fase adulta, mas que foram sanados. Ainda me lembro que não dormia com a luz apagada e muito menos tomava banho com a porta fechada. Não consigo ouvir berros de um casal.
Um dia na casa da mãe do meu ex-namorado, o Bernardo, ele discutia com ela de uma forma tão bruta que sai da casa, chorando, e fui para a rua. Senti a mesma sensação, a mesma dor. Acho que foi ali que percebi que não poderia casar com ele.
Essa história veio agora por que minha mãe, ao sentarmos na mesa, me contou um fato que ainda choca e me faz tremer o corpo de raiva. Fiquei horas tentando relaxar para relatá-la aqui e fazer com que pelo menos aquelas que lêem esse blog e sofram esse tipo de violência, dêem um basta nela.
A empregada do colégio de freiras aqui da região, perto da Igreja onde minha mãe freqüenta, está com depressão profunda.
Lembro-me que uma vez ela perguntou para minha mãe como ela deveria agir com o marido que a chamava de “geladeira”. Minha mãe sugeriu que ela bebesse algo, uma “pinguinha” para agüentar o marido abusivo (que também bebe e ainda a espanca pela frigidez).
Grávida de sete meses, ela apanhou tanto que abortou o menino. Ficou chocada com a imagem do garoto morto, e não denunciou o marido. Segundo minha mãe relatou, nem para os médicos. Foi considerado um aborto natural.
Espanta-me os médicos e as freiras não fazerem algo, mas o que se pode fazer com a apatia da população em geral? O problema não é deles!
Agora ela está em depressão, com mania de perseguição e tomando remédios anti depressivos, o velho e conhecido tarja preta.
Minha mãe contando a história e um sentimento ruim me tomando e uma vontade de juntar um bando de homens conscientes, buscar o infeliz e bater... e bater... e bater... e fazê-lo sentir o que a mulher que dorme com ele, que lava a roupa dele, e que faz sexo com ele, aprenda como dói.
Depois parei e pensei, não, sentimentalismos nessa hora não dá. Ou vamos ser realistas e discutir isso com SERIEDADE, ou vamos deixar muitas outras mulheres passarem por isso.
Há uma linha tênue entre o chamado consensual e a violência gratuita.
Por quê algumas mulheres ainda acham que “devem” passar por isso?? Por quê?
Por quê algumas outras pessoas não fazem absolutamente nada contra isso? Por quê ?
E lá vamos nós com os nossos por quês!!!!!!
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02 abril 2006
Violência Doméstica
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4 comentários:
com relação a violencia doméstica, tenho somente acrescentar que: tem total razão qundo dizem que quem vê ou sofre faz igual ou pior, tenho uma irmã que sofre assim, mas não tenho dó, pelo simples fato que não podemos ver e deixar isso acontecer seja por qual motivo for, filhos, nós mesmos, etc.Somos todos seres humanos e passivos de acertos e erros e temos que ter discernimento em atItudes das quais de uma maneira ou de outra vai trazer desagravo no futuro, elas pensam que protegem os filhos e se protegem não denunciando , mas na verdade estão sendo coniventes com este crime hediondo de tortura psicólogica-cerebral, a denuncia tem que ser feita, pro mal morrer e nao prevalecer! MULHERES DENUNCIEM!
Eu já precisei dos serviços das DDMs.. o trabalho delas é lindo... e nós, fracas. Cada vez que deixamos o agressor agrdir, compactuamos com a violência.. A que sofri não foi física. Foi emocional.. Foi achincalhe... também me deixou em depressão, hj sanada. Nóa tão fortes pra tudo e tão fracas pra denunciar. Nós tão fortes pra tudo e tão fracas pra dizer chega. Pq as mulheres sempre acham que é possível consertar sem brigar. Arrumar sem discutir. Fomos e somos educadas assim. Estou com um caso próximo e exatamente agora sem notícias da pessoa a dois dias.. Fazemos o que? Nada... Vi, vc tem razão...
Vi eu passei por aqui ontem, mas tô parecendo um robô. Xo tendinite.
Mas como eu havia te dito, é muuito sensível o tempo, mesmo porque enquanto não conseguimos enxergar nada além do nossos problemas, do que está a nossa volta e desse círculo vicioso fica complicado até pedir ajuda.
Filhos, situação financeira contribuem. Mas o processo psicológico é fato decisivo, pisc*
beijuss
Ly
Minha irmã aceitou a violência por longos 15 anos... Um dia, após ele bater a cabeça dela no portão eu perguntei porque ela não dava um basta naquilo?! Ela me disse que ele ameaçava mata-la...olhei bem nos olhos dela e falei bem dura e séria:
- Parece que vc ainda não entendeu bem a situação, te matar ele vai matar de qualquer maneira, mas se vc ao menos denuncia-lo, quando te encontrarmos morta todos saberão quem foi e ele não sairá impune. E quem sabe vc denunciando, saindo desse casamento vc ainda possa ensinar à sua filha que apanhar dessa maneira não é o certo numa vida a dois!!
Acho que fez efeito, ela o denunciou e conseguiu a separação.
Quem sofre de violência fisica ou mental tem sua auto-estima a tal ponto afetada que lhes é muito difícil ver a realidade dos fatos!
Adoro ler o que vc escreve.
Gel
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