Hoje acordei de susto, e pelo resto do dia, tenho certeza que vou passar com sustos.
Pois ao atender ao telefone uma amiga fez uma pergunta engraçada: -
Na época do “Zé”, você se importava com ele saindo com outras mulheres?
Confesso que não me importava ATÉ tomar consciência que o que sentia por ele era mais do que uma amizade colorida, e sim uma coisa bem mais forte. Ele mesmo me dizia com quem tinha saído, mostrando (segundo a visão dele) a importância que eu tinha no universo dele.
Era engraçado e por que não, excitante. Mas agora vejo que tomou ares de puro desleixo, puro desafio, e muito mais agressão psicológica.
Quando nos conhecemos, fazia um esforço tremendo para que nossas saídas aos motéis da vida não fossem algo pesaroso. Afinal, ele tinha o dom de reclamar de não estar com muita grana no bolso.
Claro que isso foi um choque, afinal, quando namorava o Bernardo (que durou 7 longos anos), dinheiro era algo sem parâmetro. Nunca repetíamos o mesmo motel no início, mas quando declarei amar de paixão o Romain Ville, fizemos de lá base para nossas pernoites. Ficamos tão assíduos que tornamo-nos amigos dos gerentes (diurno e noturno) e das atendentes.
Portanto, não havia essa de “racionamento financeiro”. Estranhei claro, mas como tudo que é novo é interessante, continue naquela.
Ficamos assíduos de um motel perto de minha residência, barato, mas limpo. O custo lá era suportável, mas o que valia era a limpeza do lugar.
Quando o “Zé” saiu com uma moça, teve a “insensibilidade” de me dizer que no dia gastou mais do que deveria; “- Vi, gastei lá R$ 160,00 (lembro exatamente do valor). Tudo porque passei do horário normal, você sabe como sou, esqueço-me do tempo quando estou nesses lugares.”
Sim, eu lembrava mesmo, mas porque eu achava que comigo era especial. Perder-se no horário era algo comumentre nós dois, ficávamos entretidos com nossos desejos e nossas conversas e lá iam nossas quatro horas. No entanto, o privilégio do avançar no horário era somente meu. Ledo engano. Foi ai que comecei a perceber que meu lugar não era o da preferida, da escolhida. Não tinha lugar algum (por mais que ele afirmasse aos brados que eu sim, tinha meu lugar!).
Bom, terminado o relacionamento, nos encontramos num bar que costumávamos freqüentar juntos.
Mantendo uma cara bucólica e paisagística, sentamo-nos a mesma mesa. Conversamos coisas sem fundamentos, querendo eu manter uma postura de “amiga”, quando do nada coloca ele, em cima da mesa , um daqueles brindes de motel, um flip de fósforos, com a propaganda do motel em destaque, “Pousada do Cowboy”.
Na mesma hora meus olhos passearam pelo flip, pelos olhos dele, pelo flip, e novamente nos olhos dele. A cara redonda e os olhos pequenos (bem que me diziam, não confia em quem tem os olhos pequenos, estilo águia de rapina), não fizeram menção alguma de perceber o que estava acontecendo. Mas lá no fundo sabia sim.
E digam me se isso não era uma forma de agressão?
Ok, dirão os homens que não pensam iguais as mulheres. Concordo. No entanto o sentimento que algum homem teria ao ver sua ex (seja lá a nomenclatura escolhida) jogar em cima da mesa um flip de fósforo de um motel qualquer seria o mesmo que o meu.
Então, no que se refere a pergunta de minha amiga eu respondi: - Não, por que na época eu me achava a mais importante!!!!
É isso!!!